Análise dos painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves

26-06-2015 09:39

 

Os Painéis de São Vicente são uma obra composta por seis painéis, criada pelo pintor de português Nuno Gonçalves. As seis pinturas atribuídas a Nuno Gonçalves apresentam um agrupamento de 58 personagens em torno da dupla figuração de São Vicente. Estas figuras, em volumes claramente afirmados, tão caracterizadas pela concentração expressiva dos rostos e atitudes quanto pela requintada definição pictórica dos trajes e adereços, parecem aliar, nesta encenação cerimonial, o intuito de uma evocação narrativa a uma visão contemplativa. Trata-se de uma obra muito enigmática, devido as suas variadas interpretações, como por exemplo, o material com a qual foi pintada: uns pensam que foi a têmpera sobre madeira de carvalho, outros que foi pintada a óleo e outros que foi a gesso e a cola. As razões que indicam que fosse a óleo são que ao fazerem as radiografias da obra, foram descobertas algumas alterações efectuadas durante a sua realização, e alguns pormenores, que só eram possíveis utilizando este método; as razões da sua elaboração a gesso e a cola são que a obra revela uma camada cromática em que estão presentes, essencialmente, as cores primárias no fundo, efeitos de luz e o contraste entre cores claras e escuras. Representa, principalmente, a sociedade portuguesa da época, ou seja, os seus grupos sociais, e a importância que detinham. Outra das características mais evidentes da obra é a textura dos vestidos, desde os bordados, aos veludos, algodões, e até aos metais, nas vestes dos nobres, que revelam grande realismo. 

 


O primeiro painel, onde se destacam os frades, que devido ao seu hábito branco se pense se tratarem de cistercienses de Alcobaça ou agostinhos regulares do Mosteiro de S. Vicente; é também possível identificar-se um madeiro, carregado pelo frade de cabelo e barba longos, que se pensa tratar-se de um caixão que guardava as relíquias de S. Vicente ou um leito de pregos, relacionado com o martírio do Santo.

 

O segundo painel, trata-se do Painel dos Pescadores, onde é possível observar três figuras, que aparentam exercer essa mesma profissão, e que se desconhece se se tratam de figuras históricas ou pescadores anónimos. Possui ainda outra curiosidade que é que a rede que cobre estes pescadores foi pintada por outro autor. Estas três figuras formam um triangulo, dando-nos a sensação de existir algo que os une; Há um dos pescadores que se destaca que se encontra ajoelhado, segurando o rosário, e olhando sempre fixamente para qualquer observador do quadro; Embora se assemelhe a um frade, devido ao hábito castanho, o rosário que pega, é constituído por vértebras de peixe, dando-nos a certeza de que a figura se enquadra.

 

   

O terceiro painel é conhecido pelo Painel do Infante, pela presença do Infante D. Henrique, à direita do Santo; Este painel possui uma particularidade, que é a representação de duas figuras femininas (a rainha e a rainha-mãe – D. Isabel e D. Leonor) e um adolescente (embora o quadro anterior, dos pescadores, suscite algumas dúvidas quanto ao sexo do pescador de azul). Este acto pode ser entendido como um juramento ou veneração à família real. Outra curiosidade neste painel é, o livro que S. Vicente se encontra a segurar, trata-se do livro dos Evangelhos (Evangelhos segundo S. João), que nesta obra se encontra legível ao observador; o homem a quem S. Vicente se dirige é muito provavelmente, o rei D. Afonso V.

 

 

 

O quarto painel, também conhecido como Painel do Arcebispo, uma designação um pouco insólita, pois a personagem à qual o nome do quadro é atribuído, encontra-se num terceiro plano, ou seja, no fundo do quadro; os protagonistas deste painel, através das suas semelhantes vestes e armas (lanças e espada), apercebemo-nos que estes são cavaleiros da alta nobreza da sociedade. Um simbolismo bastante evidente neste painel é a corda que se encontra aos pés de S. Vicente, que simboliza o martírio sofrido pelo mesmo no norte de Africa, pelos mouros, caso idêntico também ao de D. Fernando, irmão de D. Afonso V, que se encontra aqui representado, ajoelhado aos pés do Santo, que foi enforcado no mesmo local, pelas mesmas “mãos”.

 

O quinto painel, denominado Painel dos Cavaleiros, detém um grande sentido de igualdade, bastante diferente do anterior. Os quatro cavaleiros que se destacam em primeiro plano no painel, são dotados de individualidade, sendo representados com diferentes vestes e expressões faciais que as caracterizam. Ao fundo do painel, estão representados quatro elementos do baixo-clero (clero paroquial) ou representantes de Ordens militares religiosas, que trajados de branco, contrastam com as outras personagens, dando-lhes mais “relevo”. Uma curiosidade deste painel é a origem do cavaleiro que se encontra mais próximo dos eclesiásticos, que se pensa se tratar de um cavaleiro mouro.

 

O sexto e último painel, trata-se do Painel da Relíquia, pois a figura principal é possivelmente um elemento do alto clero, que está a segurar um osso do crânio, que é a relíquia de S. Vicente; também o enquadramento do caixão do fundo neste painel, faz transparecer que a sua utilidade era o transporte das relíquias de S. Vicente. Outro aspecto bastante bizarro, aqui representado é que todo este painel possui um carácter cristão, mas o livro que se encontra aberto, que é ilegível, trata-se da Bíblia hebraica, segurada por um suposto judeu.

 


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